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DISCOGRAFIA

 

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VILLA-LOBOS SUPERSTAR
2012

1  Bachianas Brasileiras nº 4 – Prelúdio (Introdução) (Heitor Villa-Lobos)

2  Bachianas Brasileiras nº 4 – Ária (Cantiga) (Heitor Villa-Lobos)

3  Lenda do Caboclo (Heitor Villa-Lobos)

4  Cair da Tarde (Heitor Villa-Lobos/Dora Vasconcelos)

5  Bachianas Brasileiras nº 5 – Ária (Cantilena) (Heitor Villa- Lobos)

6  Bachianas Brasileiras nº 5 – Dança (Martelo) (Heitor Villa-Lobos/Manuel Bandeira)

7  Modinha (Na solidão da minha vida) (Heitor Villa-Lobos – Manduca Piá*)

8  Quarteto de cordas nº 5  – 4º movimento – Allegro (Heitor Villa-Lobos)

9  Lundu da Marquesa de Santos (Heitor Villa-Lobos/Viriato Corrêa)

10  Sexteto Místico (Heitor Villa-Lobos)

11  Prelúdio nº 3 (Heitor Villa-Lobos)

12  Choro Típico nº 1 (Chora Violão) (Heitor Villa-Lobos)

*pseudônimo de Manuel Bandeira

FORMAÇÃO

Nelson Ayres – piano

Rodolfo Stroeter – baixo acústico

Paulo Bellinati – violões

Teco Cardoso – saxofones e flautas

Ricardo Mosca – bateria

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

Ensemble SP

Betina Stegmann – violino

Nelson Rios – violino

Marcelo Jaffé – viola

Bob Suetholz – violoncelo

Renato Braz – voz

FICHA TÉCNICA

Produzido por Rodolfo Stroeter

Produção executiva – Carolina Gouveia

Gravado por Alberto Ranellucci no Na Cena Studios em junho de 2011

Editado por Ricardo Mosca

Mixado e Masterizado por Jan Erik Kongshaug no Rainbow Studio em julho de 2011

Projeto Gráfico – Marcilio Godoi – Memo Editorial

Fotos e EPK – Dani Gurgel

Se, por muito tempo, Carlos Gomes deixou na cultura brasileira a marca do heroísmo e do talento inato que se sobressai internacionalmente, hoje Villa-Lobos é o compositor da música clássica que ocupa uma posição icônica. De parque a centro cultural, de festival a shopping center, de samba-enredo a condomínio de luxo, Villa-Lobos empresta seu nome a qualquer iniciativa que queira se destacar por qualidade com abrangência, por ser exclusiva pelo grau de sofisticação, ao mesmo tempo em que vem do povo e fala a todos.

 

Villa-Lobos é um herói bem inusitado. Antes de mais nada por ser o gigante da música clássica num país em que a música clássica ocupa um espaço modestíssimo dentro da escala de valores culturais. É um pouco como Ayrton Senna, o ídolo do esporte que a vasta maioria de seus fãs jamais praticará.

 

Turíbio Santos disse que Villa-Lobos tinha cara e jeito de monumento, e é isso, ele é muito admirado mesmo sem ser ouvido, simplesmente por estar lá no alto, bem visível. Mas, ao contrário de Carlos Gomes, cujo êxito se deve, em larga escala, a ter-se aculturado e feito ópera italiana tão bem quanto os italianos, Villa é um herói para o século 21, aquele que pode dar ao mundo, numa linguagem que o mundo entende, uma real dimensão do que o Brasil tem a oferecer, os contrastes extremos, o otimismo eufórico, a imaginação ampla, a alegria infantil de manipular o recém-reinventado, o sentimentalismo desinibido, a simplicidade selvagem cultivada, uma maneira de se dizer que é tão importante quanto o que é dito. Quem não vê um pouco de si num compositor que escrevia sinfonias e tocava choro na Lapa, que soltava pipas pelos céus de Paris, que vestia roupa de estampa igual ao papel de parede e que dizia “o folclore sou eu”?

 

O compositor Villa-Lobos também é inusitado. Que outro artista do século XX esteve tão à frente dos acontecimentos, tão inteirado do que se fazia de mais arrojado, e ao mesmo tempo teve um tino tão certeiro para criar temas de melodismo intenso e arrebatador? Ele é talvez um caso único de compositor que se mantém reconhecivelmente ele mesmo tanto ao escrever uma obra de vanguarda como Rudepoema quanto um verdadeiro standard como as Bachianas Brasileiras no.5, a respeito das quais não é possível fazer nenhuma crítica mais pertinente que aquela que tenta entender os elementos que as tornaram um clássico instantâneo.

 

Felizmente ouvimos aqui também a segunda parte desta obra, a Dança (Martelo), sem a qual a idéia de contraste extremo – a ampla melodia sugerindo vastos espaços naturais em contraste à granulação do terreno, da vegetação e da vida animal associada à inquietude da dança – se perde.

 

Este é um CD forte. Nele dá para perceber a força de se resistir à tentação do convite barroco à ornamentação; vence a vontade de se preservar a pureza de uma melodia cuja brasilidade é fugidia. O Villa-Lobos que se considerava folclore é aquele cuja imaginação cria uma possibilidade de brasilidade mesmo quando é difícil de nela detectar o que é tipicamente brasileiro. O Pau Brasil demonstra, na escolha do programa e no tratamento dispensado, a sabedoria de quem não quer interferir naquilo que já guarda interesse demais em seu estado natural. É uma releitura de cores, de luzes, de se sublinhar um ou outro acorde, de se fazer um invólucro de timbres e ritmos discretos a temas cuja força não exige mais amparo que esse. Nesse processo, a inserção das cordas do Ensemble SP adicionou facetas ainda mais polidas.

 

Uma palavra sobre as obras. Villa-Lobos não foi um compositor precoce. Ele começa a se assumir como um compositor profissional já homem maduro, na década de 1910. A maioria das obras dessa fase tenta demonstrar sua familiaridade com as formas consagradas, com Wagner e com os compositores franceses em voga no Brasil à época. Ele fecha essa fase com suas primeiras peças ostensivamente nacionalistas, como A Lenda do Caboclo, que já evoca uma atmosfera de brasileirismo moderno totalmente nova, e os Choros no.1, ambas de 1920. A longa temporada passada em Paris, entre 1924 e 1930, mostra um desenvolvimento excepcional para Villa-Lobos, em que ele amplia radicalmente sua linguagem: a experiência com o folclore brasileiro se transforma no roteiro de uma longa e exótica jornada; ele se sente totalmente livre para explorar as questões mais prementes do modernismo musical, e sua técnica de composição atinge o apogeu. É a época da sensacional série de 14 Choros, dentre os quais o no.1 é somente um ponto de partida, e das Serestas, seu mais importante ciclo de canções, que inclui a Modinha, chamada neste CD de Na Solidão da Minha Vida. Villa-Lobos voltou ao Brasil definitivamente em 1930, já consagrado como uma celebridade internacional, e naquela década seus dois grandes projetos foram o movimento nacional de educação musical e a série de nove Bachianas Brasileiras, suas obras mais conhecidas, onde ele destila seu extraordinário talento para a melodia e para o contraponto de inspiração barroca com molejo brasileiro. Neste CD ouvimos as Bachianas no.5 completa e o doloroso prelúdio e a cantiga das Bachianas no.4, cuja inspiração no folclore mineiro é iluminada pela voz de Renato Braz. A este entorno estético também pertencem várias canções, como o Lundu da Marquesa de Santos.

 

Nas décadas de 40 e 50 Villa-Lobos, ao invés de prosseguir numa evolução linear, obra a obra, oscilou entre várias possibilidades estilísticas, de acordo com o gênero que abordava. A composição mais rigorosa e acadêmica da década de 1910 volta nas suas sinfonias, concertos e quartetos de cordas, dentre os quais o número 5 constitui uma exceção notável dentro de toda sua produção, por citar, numa forma consagrada, melodias populares autênticas. Nos seus 5 Prelúdios para violão ele reverte ao ambiente de exaltação melódica das Bachianas; no no.3, o Pau Brasil se vale da familiaridade para criar uma verdadeira transfiguração dos elementos composicionais. Nas obras para grupos mistos de cordas e sopros, como o Sexteto Místico, Villa-Lobos compõe um sonho, em atmosfera de encanto e forma livre, que evolui sem recorrência. E, finalmente, na Floresta do Amazonas, uma suíte baseada na trilha sonora que ele escreveu para o filme Green Mansions, Villa- Lobos faz uma somatória de tudo que há de mais sublime e de mais kitsch em seu arsenal expressivo; o fragmento Cair da Tarde está firmemente plantado no lado sublime desse compositor que, por casar uma forte identidade musical com flexibilidade de abordagem, torna-se mais e mais relevante à medida que dele nos distanciamos.

USABrazil